Resumo:
A relação entre transtornos mentais graves e criatividade é um tema amplamente explorado, especialmente quando se trata de artistas com produções intensas e inusitadas. Um novo artigo publicado na CNS Spectrums (Stahl et al., 2025) analisa o papel potencial de um transtorno mental grave (TMG) nas famosas pinturas de gotejamento de Jackson Pollock, principal figura do expressionismo abstrato.
A ligação entre TMG e criatividade artística
Desde a antiguidade, há reflexões sobre a proximidade entre genialidade e loucura. Atribui-se a Aristóteles a frase: “Nenhum grande gênio jamais existiu sem uma pitada de loucura”. Muitos artistas notáveis — como Vincent van Gogh, Edvard Munch e o próprio Pollock — foram associados a quadros psiquiátricos complexos.
O estilo de Pollock: ação, emoção e técnica
O expressionismo abstrato, também conhecido como action painting, foi marcado por gestos espontâneos e pela expressão intensa de emoções durante o ato de pintar. Jackson Pollock se destacou por suas “pinturas de gotejamento”, criadas com movimentos corporais amplos e ritmados — uma verdadeira performance artística.
Pareidolia ou intenção? A polêmica dos “polloglifos”
Uma das discussões atuais é a presença de imagens ocultas nas obras de Pollock. Alguns especialistas afirmam que essas figuras são percebidas por pareidolia — a tendência do cérebro humano de ver padrões e rostos em imagens ambíguas — especialmente quando estimulados por bordas fractais, como nas manchas de tinta dos testes de Rorschach e nas obras de Pollock.
O estudo de Stahl et al. (2025) levanta uma hipótese provocadora: seria possível que essas figuras enigmáticas fossem mais do que ilusões? Os chamados polloglifos poderiam ser manifestações conscientes ou inconscientes de um transtorno mental grave?
Pollock tinha um transtorno mental grave?
Há relatos históricos que descrevem Pollock como alguém com episódios de hiperatividade, impulsividade e momentos que lembram estados maníacos. Se confirmado um diagnóstico de TMG, ele pode ter influenciado não apenas a intensidade de sua criação, mas também os elementos visuais codificados que hoje são alvo de estudo neurocientífico e artístico.
Conclusão
O artigo propõe uma nova leitura das obras de Pollock à luz da psiquiatria e das neurociências, instigando reflexões sobre o papel da mente — saudável ou adoecida — na produção artística. A linha entre expressão criativa e sintomatologia psíquica segue sendo tênue e fascinante.
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📚 Referência
Stahl SM, Morrissette DA, Jabali J, Gates JA. What role did serious mental illness play in Jackson Pollock’s drip paintings? Abstract expressionism and possible links to serious mental illness and encrypted images (polloglyphs). CNS Spectrums. 2025.
Leitura complementar:
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