Resumo:
Um estudo recente publicado na Translational Psychiatry (Herder et al., 2025) analisou a associação entre 76 biomarcadores de inflamação e sintomas depressivos em pessoas com diabetes tipo 1 (T1D) e tipo 2 (T2D). Os resultados sugerem que a inflamação pode estar relacionada de forma diferente com os sintomas da depressão conforme o tipo de diabetes, além de indicar que os sintomas somáticos e de anedonia são mais influenciados por vias inflamatórias do que os sintomas cognitivo-afetivos.
A conexão entre diabetes, depressão e inflamação
Pessoas com diabetes apresentam risco aumentado de desenvolver depressão — cerca do dobro da população geral. Estudos anteriores já indicavam que a inflamação subclínica desempenha papel central tanto na fisiopatologia do diabetes quanto da depressão. No entanto, pouco se sabia sobre a especificidade dessa associação de acordo com o tipo de diabetes e os diferentes grupos de sintomas depressivos.
O que o novo estudo analisou
O estudo avaliou dados de 1.160 pessoas (706 com T1D e 454 com T2D), provenientes de cinco grandes estudos realizados na Alemanha. Foram mensurados 92 biomarcadores inflamatórios, dos quais 76 foram considerados válidos para análise após controle de qualidade.
Os sintomas depressivos foram avaliados por meio da escala CES-D, com pontuação contínua e análise por clusters:
• Cognitivo-afetivos (ex.: tristeza, desesperança)
• Somáticos (ex.: alterações no sono e apetite)
• Anedonia (ex.: perda de interesse e prazer)
Principais achados
✅ Biomarcadores associados à depressão (independentemente do tipo de diabetes):
Nove biomarcadores apresentaram associação positiva com maior escore de sintomas depressivos:
• CDCP1, FGF-21, IL-8, IL-18, Eotaxina (CCL11), MMP-10, TNFRSF9, CCL25, IL-10RB
Essas associações foram especialmente mais fortes com sintomas somáticos e de anedonia do que com sintomas cognitivo-afetivos.
🔄 Diferenças entre T1D e T2D
Foram identificados oito biomarcadores com associações distintas dependendo do tipo de diabetes:
• TNFβ: associação inversa com depressão no T1D
• GDNF, IL-18R1 e LIF-R: associação positiva com depressão no T2D
Essas diferenças sugerem que os mecanismos inflamatórios envolvidos nos sintomas depressivos podem variar conforme a fisiopatologia do tipo de diabetes.
🧩 Sintomas somáticos e anedonia se destacam
A análise por clusters mostrou:
• Biomarcadores como FGF-21, MMP-10, IL-18, TNFRSF9, entre outros, correlacionaram-se mais com sintomas somáticos
• Já biomarcadores como GDNF, CXCL6, CD8A, SIRT2, entre outros, mostraram associação mais forte com anedonia, especialmente no T2D
Isso reforça a hipótese de que subgrupos de sintomas podem ter origem biológica distinta.
Implicações clínicas e para a medicina de precisão
Esses achados reforçam a necessidade de olhar para a depressão em pessoas com diabetes de forma mais personalizada:
• A heterogeneidade da depressão (em sintomas e resposta ao tratamento) pode estar relacionada a diferentes vias inflamatórias.
• A detecção de subgrupos inflamatórios pode futuramente guiar estratégias de tratamento personalizado, inclusive com o uso de terapias anti-inflamatórias como coadjuvantes em depressão resistente.
Conclusão
Este estudo amplia significativamente o conhecimento sobre os vínculos entre inflamação e depressão em pessoas com diabetes. Além de confirmar o papel de vias inflamatórias na depressão, ele sugere que diferentes mecanismos podem estar envolvidos conforme o tipo de diabetes e o padrão sintomático do paciente. A medicina de precisão poderá, no futuro, se beneficiar da identificação desses perfis biológicos para definir intervenções mais eficazes.
📚 Referência
Herder C, Zhu A, Schmitt A, et al. Associations between biomarkers of inflammation and depressive symptoms—potential differences between diabetes types and symptom clusters of depression. Translational Psychiatry. 2025;15:9. https://doi.org/10.1038/s41398-024-03209-y